quinta-feira, 6 de março de 2008

Pincéis, guitarras e blá blá blá

Ontem o historiador-hipponga-cool Eduardo Bueno saiu em defesa de Bob Dylan no Jornal da Globo: “Dizer que ele canta mal é como falar que as mulheres que o Picasso pintava são feias. Bob Dylan é o cubista da voz”. Como é que é?! A despeito do brilhantismo de Bueno, que bobagem, não?! Acontece que antes de pintar aqueles quebra-cabeças desarrumados, Picasso dominou perfeitamente as técnicas mais apuradas, fez retratos que pareciam fotos, aprendeu tudo que os grandes mestres tinham a ensinar. Nada mais diferente do roqueiro setentão. Dylan sempre foi cru. Nada teve de elaborado, de modernidades. Foi transgressor na postura e nas letras, não na forma. É um apanhado de cacos, poeira, coisas sujas, lirismo de rua, que soube misturar com o velho folk americano e transformar em algo sublime. Canta com aquela voz fanhosa porque foi a única que deus lhe deu – não é um soprano lírico querendo modernizar sua arte. Estaria mais para pintor naïf: num jeitão tosco, fez grandes canções, grandes baladas, atingiu a profundidade. E viva Bob Dylan, que não precisa de desculpas para cantar mal! Assim como “nunca vi Beethoven fazer aquilo que Chuck Berry faz”, nunca vi Picasso tocar guitarra folk.

2 comentários:

lau disse...

just like chico buarque.
tem gente que nasce para criar, não cantar! bjoca

Anônimo disse...

Just like pedrinho, hahahahah